quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Mitos

Se a pessoa tiver força de vontade para falar, ela consegue falar sem gaguejar 

           Tendo em vista que a ocorrência da gaguez é involuntária, a pessoa que gagueja não consegue ter controlo absoluto sobre a sua fala. Por isso, nem a maior força de vontade poderá impedir a ocorrência da gaguez. Por outro lado, a força de vontade pode ser uma grande aliada na superação da gaguez, facilitando a adesão aos tratamentos especializados.

Mitos

A pessoa gagueja porque pensa mais rápido do que fala
           Todas as pessoas pensam mais rápido do que falam. O pensamento é como se fosse um relâmpago e a fala, o trovão que o acompanha instantes depois. Portanto, a velocidade do pensamento não pode ser a causa da gaguez, porque todos nós pensamos mais rápido do que falamos, mas nem todos nós gaguejamos.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Mitos

Obrigar a criança a ler em voz alta na sala de aula faz com que ela perca a timidez e o medo de falar
           A timidez e o medo não são fatores que causam a gaguez. Portanto, a crença de que, se a criança deixar de ser tímida ou deixar de ter medo de falar, a gaguez irá desaparecer, está completamente errada. Na verdade, a timidez e o medo de falar podem ser consequências da gaguez: a criança pode ter medo de falar porque sabe que vai gaguejar, porque sabe que não consegue impedir a ocorrência da gaguez, e, muitas vezes, por acreditar que deveria ser capaz de fazer algo para não gaguejar. Por outro lado, o medo pode realmente agravar a gaguez. Assim, obrigar a criança a ler em voz alta na sala de aula só vai contribuir para piorar o problema. 

Mitos

Ajuda dizer à pessoa para ficar calma, relaxar, respirar fundo ou pensar antes de falar

          Este tipo de recomendações faz com que a gaguez pareça algo muito simples de se resolver. Se realmente assim fosse, com certeza que não haveria tantas pessoas que gaguejassem.
         Quando a pessoa que gagueja ouve do seu interlocutor algo como fique calmo, relaxe, respire ou pense antes de falar, a pessoa que gagueja fica ainda mais preocupada com o seu ”distúrbio”, o que provavelmente contribuirá para que a gaguez piore. Assim, a intenção de ajudar acaba apenas por atrapalhar ainda mais.
          Muitas vezes, o mal-estar que o interlocutor sente é maior do que o da própria pessoa que gagueja. Nestes casos, é o interlocutor quem precisa de ficar calmo e relaxar. Deve esperar que a pessoa que gagueja termine de falar, não completando as palavras e sem fazer comentários inoportunos. Respeitar o tempo e a forma de falar de quem gagueja é fundamental.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Mitos

Se a criança começar a gaguejar, é melhor fazer de conta que nada está a acontecer para que ela não tome consciência do problema

           Acreditava-se que chamar à atenção da criança acerca da sua fala seria a causa imediata da gaguez, fazendo com que hesitações comuns se transformassem em gaguez. Atualmente, sabe-se que isso não é verdade. Falar com a criança sobre a gaguez não fará com que o “distúrbio” se instale ou piore. Falar abertamente com a criança sobre a gaguez fará com que sinta o apoio dos pais, sentindo-se encorajada para partilhar as suas dificuldades. O silêncio em torno da gaguez só contribui para aumentar a distância entre os pais e os filhos.

Mitos

A gaguez é contagiosa. Pode-se "pegar" por imitação ou por conviver com uma pessoa que gagueja.
           A gaguez não é contagiosa nem ninguém pode "pegar" gaguez. Se assim fosse, todas as pessoas que convivessem com alguém que gagueja, gaguejariam também. 
           Além disso, dizer para uma pessoa que gagueja que ela aprendeu a gaguejar por imitação significa rebaixá-la e humilhá-la: com tantas características favoráveis para imitar, por que escolheria a gaguez, que lhe seria prejudicial e lhe traria desvantagens?

Mitos

Os pais das crianças que gaguejam são os principais responsáveis pelo distúrbio nos filhos, pois a gaguez resultaria de uma educação repressora e recriminadora
           
        Os pais das crianças que gaguejam são alvos de diversos estereótipos sociais. São apontados como pais dominadores, superprotetores, com altas expectativas, perfeccionistas, com sentimentos de rejeição e avaliações indesejáveis sobre a personalidade do filho que gagueja.

       Entretanto, os avanços científicos já demonstraram que os pais não são os responsáveis pela gaguez dos seus filhos.
   A gaguez é, provavelmente, um distúrbio neurobiológico cuja manifestação, na grande maioria das vezes, acontece sem qualquer interferência do comportamento dos pais.

  • Quando a gaguez ocorre devido à herança genética, significa que a criança possui genes que a predispõem ao distúrbio. Como os genes são determinados no momento da fecundação, os pais não podem escolher os genes que o filho irá receber, logo estes não são os responsáveis.
  • Quando a gaguez ocorre devido à lesão neurológica, geralmente a lesão foi causada por algum acidente em que a criança bateu com a cabeça (acidentes domésticos, desportivos ou automobilísticos). O que os pais podem fazer é tentar evitar a ocorrência destes acidentes, tomando as precauções necessárias.

          Embora os pais não possam evitar o início da gaguez, podem evitar que ela se agrave e se torne crónica. E é precisamente em relação a estes aspetos que as atitudes por parte dos pais são importantes.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Mitos

As pessoas que gaguejam são menos inteligentes

           Não existe qualquer relação de causa ou de consequência entre a gaguez e a inteligência, ou seja, não é a falta de inteligência que causa a gaguez, nem a gaguez que torna a pessoa menos inteligente. Algumas pessoas com gaguez optam por expressar menos as suas opiniões oralmente transparecendo assim a ideia de que é menos inteligente, mas este geralmente não é o caso.

Mitos

“Se eu não gaguejo em algumas situações (por exemplo: cantar, ler em coro, falar com outro sotaque, representar um personagem, sussurrar), é sinal de que posso ser fluente em todas as situações. Se não consigo ser sempre fluente, a culpa é minha.”
        A fala é processada por diferentes partes do cérebro, dependendo do contexto. As variações situacionais da gaguez - embora possam parecer (erradamente) um problema emocional ou de ansiedade social - refletem apenas diferenças no modo como o cérebro processa a fala de acordo com a circunstância.
O cérebro tem dois sistemas pré-motores: o medial e o lateral. O primeiro fica ativo quando a pessoa fala e o outro quando ela produz sons mais ritmados. Na gaguez o sistema pré-motor medial (responsável pela fala espontânea) tende a estar comprometido e o sistema pré-motor lateral (responsável pela fala não espontânea: cantar, ler em coro, representar…) tende a estar íntegro. Assim, é de esperar uma melhoria da gaguez em situações que não envolvem fala espontânea, o que não significa que esta melhoria possa ser transferida para a fala espontânea, uma vez que estamos a falar de processamentos distintos. 

Mitos

A gaguez é um hábito adquirido

       Afirmar que a gaguez é um hábito significa que a pessoa começaria a gaguejar voluntariamente e, com a prática, a gaguez tornaria-se automática e espontânea. E como já sabemos não é isso que acontece. A gaguez é um distúrbio neurobiológico causado, provavelmente, pelo mau funcionamento de áreas do cérebro responsáveis pela automatização da fala, ocasionando prolongamentos, bloqueios ou repetições. Esta disfunção é o resultado de uma predisposição genética ou de uma alteração na estrutura do próprio cérebro. Portanto, a gaguez não pode ser simplesmente aprendida por imitação, porque ocorre em pessoas que, de alguma forma, estão propensas a ela.

Mitos

Um susto pode causar gaguez

       Quem é que nunca apanhou um susto?
     Se um susto causasse gaguez, provavelmente todos seriamos gagos. Esta confusão pode acontecer porque os pais podem relacionar a gaguez do seu filho com algum trauma que tenha apanhado.

domingo, 18 de novembro de 2012

Os Mitos da Gaguez

        A população em geral dispõe de pouco conhecimento acerca da gaguez. Assim, é natural que se ouçam, ocasionalmente, ideias erradas acerca deste tema na tentativa de explicar algo que na verdade desconhecem. Existem, por isso, diversos mitos associados a esta perturbação da fluência.
Ao longo da próxima semana desvendaremos alguns mitos de forma a satisfazer a sua curiosidade e a clarificar ideias/preconceitos que possam existir.

            Fiquem atentos!

Consequências (Parte 2)


Na criança que gagueja, o rendimento escolar poderá estar em risco. Ao apresentar dificuldades em verbalizar certas palavras, prejudica a fluidez do seu discurso o que irá certamente comprometer o processo de ensino-aprendizagem.
É na escola onde as crianças, geralmente, vivenciam os momentos mais significativos de interação com os seus pares e com os educadores. A criança é, assim, mais solicitada a responder, em situação de sala de aula ou outra, estando por isso mais exposta e vulnerável. Ao sentir-se pressionada a gaguez tornar-se-á mais evidente, podendo até ser alvo de troça dos demais.
Surgem então dificuldades na forma como lidar com esse gozo por parte dos colegas e na falta de compreensão por parte de alguns professores, que tendem a puni-los no aproveitamento escolar.

Como já vimos, as consequências desta perturbação são várias e podem surgir também associadas a comportamentos motores, tais como, o piscar de olhos, tiques, tremores dos lábios ou da face, extensões bruscas da cabeça, movimentos respiratórios irregulares, ou até fechar os pulsos no ato de fala. Estes sinais são muito visíveis e podem afetar psicologicamente a criança ou o indivíduo, inibindo até o seu convívio social.

Concluindo, a gaguez não se traduz apenas no visível ao nível da fala, mas sim, em todo o psicológico e maneira de ser da pessoa, trazendo assim muitas implicações e consequências menos desejadas para a pessoa que gagueja. Esta perturbação da comunicação afeta o bem-estar bio psicossocial do indivíduo.

“A gaguez quer afete uma criança, um jovem ou um adulto, toma a dimensão que a própria pessoa lhe dá. A personalidade e a fase de maturidade física e cognitiva da pessoa que gagueja influenciam o modo como lida com a gaguez e o impacte da mesma na sua qualidade de vida.” (Gaiolas, 2010)

Consequências (Parte 1)

A gaguez é muito mais do que a dificuldade de se expressar, de querer dizer e não conseguir, de perder o controlo sobre os mecanismos da fala. Sendo assim, é muito mais do que aparenta. Gaguejar causa sentimentos e emoções negativas desde a infância que, sem o apoio e acompanhamento adequados, se enraízam, intensificando-se ao longo da vida.
O sentimento de frustração, irritação, embaraço, vergonha, culpa e de ansiedade, em conjunto com as emoções negativas pode muitas vezes conduzir ao medo de falar e ao isolamento.

O medo de falar, de ser gozado, ou o simples receio de enfrentar a impaciência das pessoas, são fatores que condicionam a socialização desde muito cedo, normalmente desde os 5 anos.

Todos estes aspetos, quando se agravam, vão interferir e muito na vida de uma pessoa que gagueja, não só a nível pessoal mas também em certas situações sociais e profissionais. Uma vez que a pessoa não se sente à vontade na maior parte dos contextos, não tem a capacidade comunicativa que pretende, tem bastante dificuldade em falar em público, sente-se envergonhada, principalmente na presença de estranhos e tende a isolar-se.
Muitas vezes o sentimento de culpa é tão grande que leva a um mal-estar completo, originando posteriormente depressões e medo de voltar a estar em situações diferentes do quotidiano.

Segundo Gaiolas: “Falar, para qualquer pessoa que gagueje, é uma incógnita, pois nunca sabe quando irá ficar preso num som ou numa palavra, e isto pode levar a uma antecipação mental da gaguez. O simples facto de a pessoa prever que vai gaguejar em determinada situação ou com determinado ouvinte, desencadeia o medo de efetivamente gaguejar. Qualquer pessoa com medo de algo fica tensa e sem autoconfiança, ingredientes fundamentais para o aparecimento e aumento da gaguez.”

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Mecanismos de fuga e evitamento

Visto que a gaguez é bastante incomodativa, existe uma procura geral, por parte de todos aqueles que gaguejam, de evitar ou contornar a gaguez. Assim, tanto as crianças, jovens ou adultos tendem a desenvolver naturalmente, e sem qualquer ensinamento, mecanismos de fuga à gaguez.

















Mesmo assim, entra aqui um desfio: “O que é mais importante, esconder a gaguez dos outros ou obter aquilo que se deseja? É certamente um desafio muito difícil de gerir e só quem passa por ele é que tem essa noção.” (Gaiolas, 2010)

Mecanismos físicos associados

     A gaguez não se limita aos três tipos de interrupções na fala, já mencionados anteriormente no post “Tipos de Gaguez”. Quando a criança/jovem está a gaguejar, observam-se, frequentemente, movimentos estranhos na sua face e no seu corpo. Muitas vezes, quem não conhece as características da gaguez, pode rotular a criança que gagueja de “esquisito”. Deste modo, torna-se fundamental conhecer as características desta patologia comunicativa.

       Quando a pessoa que gagueja fica constantemente presa nas palavras que quer dizer começa a sentir-se como que “sufocado”. A tentativa de sair rapidamente dessa “prisão” e de ultrapassar os momentos de gaguez traduz-se no aumento da tensão muscular, afetando músculos direta e indiretamente relacionados com a voz (face, ombros, pescoço, membros…).
      Este aumento da tensão muscular faz aumentar a gaguez e provoca a ocorrência de movimentos parasitas involuntários como:

domingo, 4 de novembro de 2012

Workshop sobre Gaguez

       Dia 24 de Novembro, os Terapeutas da Fala Jaqueline Carmona e Gonçalo Leal irão dinamizar um Workshop sobre a Gaguez, em Belém.
         Este é o Workshop ideal para quem gostaria de atualizar e expandir os seus conhecimentos acerca desta patologia comunicativa.

Tipos de Gaguez

A gaguez é algo que não se manifesta de igual forma em cada pessoa, ou seja apresenta uma grande diversidade. Esta patologia da comunicação pode ser caracterizada como uma interrupção no fluxo normal da fala. Na gaguez crónica, estas interrupções acontecem geralmente dentro da unidade da palavra. Consideram-se, assim, três tipos de interrupções, sendo elas:
  1. Repetições de sons (e-e-e-e-e-eu), de silabas (ca-ca-ca-ca-casa) e de palavras (quero-quero-quero-quero brincar).
  2. Prolongamentos de sons em início (eeeeeeeeera), meio (teeeenho) e fim de palavras (querooooooo).
  3. Bloqueios - pausas longas, com esforço muscular que podem que podem ocorrer em início da frase (…….Gosto de brincar), no meio (O…gato arranhou-me) ou apenas numa palavra, partindo-a em duas (con….cordo)
A pessoa que gagueja poderá evidenciar maioritariamente um destes tipos de gaguez (repetições, prolongamentos ou bloqueios). Contudo, é comum que a mesma pessoa manifeste os três tipos que, embora não coexistam em simultâneo, poderá ocorrer na mesma frase.
Ernesto, O Menino com Gaguez
Estas interrupções afetam a comunicação em graus de severidade diferentes e impossibilitam a pessoa de interagir oralmente de forma natural e eficaz.

(Gaiolas, 2010)


Tipos de Disfluências Normais

Como já referimos no post “Da Gaguez de Desenvolvimento à Gaguez Crónica: Parte 1” é normal que as crianças, no processo de aprendizagem da fala, não consigam falar logo fluentemente, apresentando disfluências normais.
Nestes casos, as interrupções acontecem geralmente entre as palavras. As manifestações mais frequentes são:
  1. Repetições (o número de repetições não deve ser superior a 3 seguidas) – Posso… posso brincar?; Eu… Eu… Eu quero o carro.
  2. Reformulações do discursoPosso ir… o Pedro vai ao parque… podemos ir?
  3. Silêncios curtos em palavrasAquele cão é… castanho.
  4. Prolongamentos curtos de sonsOOO primeiro sou eu!
  5. InterjeiçõesEspera, aaa, vou contigo.
(Gaiolas, 2010)

No fundo, todos nós gaguejamos em certas ocasiões (quando estamos sujeitos a condições de stress, cansaço, nervosismo…) apresentando manifestações destas disfluências normais. 

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Quais as diferenças?

       De forma a melhor perceberem as diferenças entre a gaguez de desenvolvimento e a gaguez crónica, apresentamos de seguida, um quadro onde se encontram as características mais relevantes de cada uma:
Referências Bibliográficas: Gaiolas, M. Gaguez da Infância à Adolescência. Vogais & Co. Edições, Lda. Cascais. 2010


 

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