Consequências (Parte 1)
A gaguez é muito mais do que a dificuldade de se expressar, de querer dizer e não conseguir, de perder o controlo sobre os mecanismos da fala. Sendo assim, é muito mais do que aparenta. Gaguejar causa sentimentos e emoções negativas desde a infância que, sem o apoio e acompanhamento adequados, se enraízam, intensificando-se ao longo da vida.
O sentimento de frustração, irritação, embaraço, vergonha, culpa e de ansiedade, em conjunto com as emoções negativas pode muitas vezes conduzir ao medo de falar e ao isolamento.
O medo de falar, de ser gozado, ou o simples receio de enfrentar a impaciência das pessoas, são fatores que condicionam a socialização desde muito cedo, normalmente desde os 5 anos.
Todos estes aspetos, quando se agravam, vão interferir e muito na vida de uma pessoa que gagueja, não só a nível pessoal mas também em certas situações sociais e profissionais. Uma vez que a pessoa não se sente à vontade na maior parte dos contextos, não tem a capacidade comunicativa que pretende, tem bastante dificuldade em falar em público, sente-se envergonhada, principalmente na presença de estranhos e tende a isolar-se.
Muitas vezes o sentimento de culpa é tão grande que leva a um mal-estar completo, originando posteriormente depressões e medo de voltar a estar em situações diferentes do quotidiano.
Segundo Gaiolas: “Falar, para qualquer pessoa que gagueje, é uma incógnita, pois nunca sabe quando irá ficar preso num som ou numa palavra, e isto pode levar a uma antecipação mental da gaguez. O simples facto de a pessoa prever que vai gaguejar em determinada situação ou com determinado ouvinte, desencadeia o medo de efetivamente gaguejar. Qualquer pessoa com medo de algo fica tensa e sem autoconfiança, ingredientes fundamentais para o aparecimento e aumento da gaguez.”
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Consequências (Parte 2)
Na criança que gagueja, o rendimento escolar poderá estar em risco. Ao apresentar dificuldades em verbalizar certas palavras, prejudica a fluidez do seu discurso o que irá certamente comprometer o processo de ensino-aprendizagem.
É na escola onde as crianças, geralmente, vivenciam os momentos mais significativos de interação com os seus pares e com os educadores. A criança é, assim, mais solicitada a responder, em situação de sala de aula ou outra, estando por isso mais exposta e vulnerável. Ao sentir-se pressionada a gaguez tornar-se-á mais evidente, podendo até ser alvo de troça dos demais.
Surgem então dificuldades na forma como lidar com esse gozo por parte dos colegas e na falta de compreensão por parte de alguns professores, que tendem a puni-los no aproveitamento escolar.
Como já vimos, as consequências desta perturbação são várias e podem surgir também associadas a comportamentos motores, tais como, o piscar de olhos, tiques, tremores dos lábios ou da face, extensões bruscas da cabeça, movimentos respiratórios irregulares, ou até fechar os pulsos no ato de fala. Estes sinais são muito visíveis e podem afetar psicologicamente a criança ou o indivíduo, inibindo até o seu convívio social.
Concluindo, a gaguez não se traduz apenas no visível ao nível da fala, mas sim, em todo o psicológico e maneira de ser da pessoa, trazendo assim muitas implicações e consequências menos desejadas para a pessoa que gagueja. Esta perturbação da comunicação afeta o bem-estar bio psicossocial do indivíduo.
“A gaguez quer afete uma criança, um jovem ou um adulto, toma a dimensão que a própria pessoa lhe dá. A personalidade e a fase de maturidade física e cognitiva da pessoa que gagueja influenciam o modo como lida com a gaguez e o impacte da mesma na sua qualidade de vida.” (Gaiolas, 2010)