Etiologias da gaguez
Apesar de todas as investigações realizadas, não existem ainda respostas exatas acerca das causas da gaguez. Pensa-se no entanto, que esta não terá uma única causa, resultando da interação de diversos fatores. Considera-se assim, que a gaguez é de etiologia multifactorial.
Existem 2 tipos de fatores que se pensa estarem na origem do aparecimento e desenvolvimento da gaguez:
- Fatores precipitantes (fatores do desenvolvimento e do ambiente da criança)
De momento, apenas se pode afirmar que a gaguez difere de pessoa para pessoa, daí ser complexa a identificação da etiologia desta patologia comunicativa.
Nos próximos posts iremos fazer uma alusão a alguns fatores que podem explicar as possíveis causas da gaguez.
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Etiologias: Fatores Genéticos
Vários autores defendem a existência de uma predisposição genética para o desenvolvimento da gaguez, uma vez que existem estudos que comprovam uma maior incidência desta patologia em famílias nas quais já existem situações deste tipo. As pesquisas indicam que sensivelmente em cerca de 40% a 50% dos casos diagnosticados com gaguez há familiares com esta patologia (Gaiolas, 2010).
Estudos com gémeos monozigóticos confirmam, também, a teoria da hereditariedade, uma vez que a gaguez ocorre mais frequentemente em ambos os membros de grupos de gémeos monozigóticos (os quais têm genes idênticos) do que em gémeos dizigóticos (os quais podem partilhar apenas metade dos seus genes) (Guitar, 2006).No entanto, estudos com alguns pares de gémeos monozigóticos revelaram achados discordantes, ou seja, um elemento do par de gémeos gaguejava e o outro não, o que demonstra a influência de fatores ambientais (Howie, 1981). Baseado nestes estudos, alguns fatores parecem ser hereditários, criando uma predisposição para a gaguez, podendo os fatores ambientais ser necessários para precipitar a gaguez em crianças que apresentam essa predisposição (Guitar, 2006). Estes fatores ambientais irão ser abordados, posteriormente, noutro post.
Ainda recentemente foram realizados estudos que identificam mutações genéticas no gene GNPTSB como possível responsável por esta disfluência.
No entanto, os estudos feitos ao nível da genética ainda são inconclusivos. Têm sido feitas investigações no sentido de se determinar até que ponto a predisposição genética por si só determinará o desenvolvimento de uma gaguez crónica, ou se existem fatores externos que influenciaram a instalação da gaguez a partir dessa predisposição genética.
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Etiologias: Fatores Neurológicos
Um dos factos de maior evidência de que o Sistema Nervoso Central constitui um fator predisponente da gaguez é a eliminação, quase imediata, do momento de gaguez com simples manipulações que não têm efeito direto e específico no sistema vocal, mas que afetam sobretudo o mecanismo de planeamento central. Estas manipulações, denominadas condições indutoras de fluência, incluem fala em coro, mascaramento auditivo, o canto ou ainda a leitura acompanhada de um estímulo rítmico, sendo os mecanismos mais efetivos os que envolvem a estimulação auditiva ou as alterações nos padrões de fala. O facto de a utilização de manipulações simples ser tão efetiva na redução da gaguez sugere que esta alteração pode ser indicativa de uma dificuldade na iniciação e no planeamento da fala (Brown et al., 2005).
Relativamente ao estudo da organização neuronal das pessoas com gaguez, a aquisição de imagens cerebrais revelaram uma diminuição da atividade nas áreas corticais motoras e anomalias na lateralização.
Das pesquisas realizadas nesta área, os resultados parecem apontar para uma maior atividade do hemisfério direito no processamento da fala das pessoas com gaguez, em comparação com as pessoas fluentes, cujo hemisfério esquerdo é o mais ativo (Gaiolas, 2010).
A possível existência de algum tipo de distúrbio temporal entre as áreas de preparação e de execução da linguagem no hemisfério esquerdo das pessoas com gaguez também tem sido alvo de estudo (Gaiolas, 2010).
Das pesquisas realizadas nesta área, os resultados parecem apontar para uma maior atividade do hemisfério direito no processamento da fala das pessoas com gaguez, em comparação com as pessoas fluentes, cujo hemisfério esquerdo é o mais ativo (Gaiolas, 2010).
A possível existência de algum tipo de distúrbio temporal entre as áreas de preparação e de execução da linguagem no hemisfério esquerdo das pessoas com gaguez também tem sido alvo de estudo (Gaiolas, 2010).
Contudo, ainda não existem estudos significativos a este nível, fornecendo apenas hipóteses explicativas para a causa da gaguez.
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Etiologias: Fatores Neuroquímicos
Ao nível da neuroquímica, sugere-se a existência de um excesso de concentração de dopamina (principal neurotransmissor dos núcleos de base que atuam no controlo de movimentos) no cérebro das pessoas gagas. (Gaiolas, 2010)
Porém, também nesta área as investigações ainda não permitem chegar a conclusões exatas sobre se esta será uma das causas da gaguez.
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Etiologias: Fatores Psicológicos
Geralmente, a gaguez aparece muitas vezes como sendo de origem psicológica. No entanto, vários investigadores, que se têm debruçado sobre este tema, não consideram esta hipótese correta acreditando que a ansiedade e os distúrbios emocionais/psicológicos são apenas uma consequência da gaguez, e não a sua causa (Gaiolas, 2010).
Por outro lado, existem alguns investigadores que defendem que a gaguez poderá ter uma base psicológica, instalando-se e tornando-se crónica através de um comportamento aprendido. Ou seja, a gaguez instala-se porque a pessoa associa insconscientemente falar a um aumento excessivo da tensão muscular, e consequentemente gagueja (Gaiolas, 2010).
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Etiologias: Fatores SócioAmbientais
Relativamente às pesquisas nesta área, o ambiente não é considerado como uma das causas da gaguez, mas sim como um fator externo que influencia a instalação e o agravamento da gaguez.
Vamos então, de seguida apresentar alguns fatores precipitantes desta perturbação da comunicação:
Ernesto, O Menino com Gaguez
- Exigência excessiva quanto à correção da fala
- Modelo de fala das figuras significativas: o ambiente linguístico vivido pela criança pode muitas vezes afetar a fluência desta, se os seus modelos de fala se caracterizarem por um débito de fala elevado, uma sintaxe complexa ou até devido a situações de comunicação demasiado competitivas.
- Acontecimentos pontuais com forte implicação afetiva(mudança para uma nova casa, o divórcio dos pais ou a morte de um familiar): este género de acontecimentos podem provocar alterações na estabilidade e segurança da criança, bem como o aumento de tensão, conduzindo ao aparecimento ou aumento da gaguez em crianças vulneráveis a esta perturbação.
- Tensão crónica no seio da família ou sentida na escola
- Pressão temporal, quando o tempo da família ou da criança estão sobrecarregados de atividades
- Aspetos geradores de dificuldades psicomotoras
- Dispor de um potencial importante de energia