segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Entrevistas - Educadoras

Ao longo deste semestre questionámos algumas educadoras acerca da gaguez. Optámos por não transcrever essas entrevistas mas sim, fazer uma análise de algumas dessas respostas. Numa primeira abordagem, foi notória a falta de conhecimentos que possuíam sobre esta problemática.
Quando questionadas acerca do que é a gaguez, todas elas responderam corretamente, umas de forma mais completa do que outras: “Disfunção da fala com repetições de sons e bloqueios.”; “Falta de fluência no discurso com bloqueios, repetições e prolongamentos de sons.”.
 No entanto, quanto à etiologia desta patologia obtivemos diversas respostas (nem todas elas corretas): “fatores genéticos”; “ansiedade”; “medo de falar”; “querer falar depressa”; “susto”… Aqui verificámos que ainda persistem alguns mitos quanto à gaguez, pois como temos vindo a referir neste blog, a causa da gaguez não é nem um susto, nem o medo de falar.
Quanto às estratégias que adotariam para uma melhor integração no meio escolar obtivemos algumas respostas corretas (“Não apressar a criança a falar, não interromper, não terminar as palavras pela criança…”; “Dar oportunidade de falar, falar pausadamente sem pressas, tenho a preocupação de não o corrigir”), mas também algumas incorretas (“Pedir para falar devagar/ respirando pausadamente”).
Todas elas reconheceram não terem as ferramentas necessárias para identificar possíveis casos de gaguez, achando que deveria existir mais informação de modo a poderem atuar da melhor maneira possível perante estes casos.
Quando entregámos o questionário às educadoras foi-lhes pedido para responderem apenas àquilo que sabiam sobre esta perturbação da fluência. No entanto, ao recolhermos os questionários verificámos que uma das educadoras, talvez por não ter conhecimento suficiente sobre a gaguez, recorreu à internet para responder às nossas questões. Observámos que uma das fontes que ela utilizou para responder foi o nosso Blog. Assim, apesar de não ser este o objetivo do nosso questionário podemos concluir que o nosso Blog está a ser uma boa ferramenta para informar e elucidar as educadoras acerca da gaguez.


O Discurso do Rei

Olá a todos!

Hoje vimos sugerir-vos a visualização de um filme - "O Discurso do Rei" (The King's Speech).

Este filme é baseado na história real do Rei George VI. Fala sobre a sua inesperada ascensão ao trono e a sua luta contra a gaguez.
Desde os 4 anos que George (Colin Firth) gagueja. Este é um sério problema para um integrante da realeza britânica, que frequentemente precisa fazer discursos. George procurou diversos médicos, mas nenhum deles trouxe resultados eficazes. Quando a sua esposa, Elizabeth (Helena Bonham Carter), o leva até Lionel Logue (Geoffrey Rush), um Terapeuta de Fala de método pouco convencional, George está desesperado. Lionel coloca-se de igual para igual com George e atua também como seu psicólogo, de forma a tornar-se seu amigo. Os seus exercícios e métodos fazem com que George adquira autoconfiança para cumprir o maior dos seus desafios: assumir a coroa, após a abdicação de seu irmão David (Guy Pearce).
É um filme de grandes emoções, que retrata as dificuldades de uma pessoa que gagueja e o modo como esta consegue ultrapassar essas dificuldades, tornando-se uma inspiração para o povo.

Este filme tornou-se uma mais valia pois oferece ao público uma visão mais madura e realista da gaguez, dando oportunidade de realmente ter empatia e entender o que se passa com uma pessoa que gagueja.


domingo, 16 de dezembro de 2012

O Programa Lidcomb

Anteriormente, neste Blog, falámos sobre duas abordagens de intervenção terapêutica: a Modificação da Gaguez e a Modelagem da Fluência.
Hoje vimos apresentar mais uma dessas abordagens: o Programa Lidcomb que foi desenvolvido pelo Centro Australiano de Investigação da Gaguez, na Universidade de Sidney.
O Programa Lidcomb é uma intervenção comportamental desenvolvida especificamente para crianças que gaguejam em idade pré-escolar.
Este programa é administrado pelos próprios pais ou cuidadores, no dia-a-dia da criança, e não pelo Terapeuta da Fala. O Terapeuta tem como objetivo, ensinar e guiar os pais durante a intervenção (visitas domiciliares).

O Programa Lidcomb inclui duas fases. 
Durante a primeira, a criança deverá reduzir a gaguez. Os pais são ensinados a elogiar o discurso fluente do filho e a corrigir suavemente as disfluências do discurso. 
O objetivo da segunda fase é de manter a gaguez “afastada” por um longo período de tempo. Os pais continuam a responder ao discurso dos seus filhos com elogios ou correções suaves, mas vão retirando gradualmente esse feedback e a frequência das visitas ao Terapeuta da Fala vão diminuindo.
 
A administração do Programa Lidcomb baseia-se fortemente na medição das disfluências. Na verdade, a intervenção não pode ser feita sem esta medição. Esta é utilizada para:
- Verificar se a gaguez da criança está a melhorar e no caso de não haver sinais de melhoria realizar os ajustes necessários.
- Identificar com precisão a altura em que a criança atingiu os critérios de recuperação.
- Verificar se o discurso da criança continua a atender a esses critérios a longo prazo.

sábado, 15 de dezembro de 2012

Entrevista - Terapeuta da Fala: Parte 2

5 - Estando esta criança em idade pré-escolar, já se consegue perceber se está perante uma disfluência fisiológica ou se está perante um quadro mesmo de gaguez? Como fez essa distinção?
Existem fatores de risco, descritos na bibliografia que nos permitem perceber se estamos perante uma difluência normal do desenvolvimento ou uma gaguez “verdadeira”. São eles: 1) antecedentes familiares; 2) o facto de a gaguez surgir depois dos 4 anos de idade; 3) ter uma duração superior a 6-12 meses; 4) o género (masculino ou feminino); 5) fatores linguísticos; 6) existência de tensão física; 7) temperamento; 8) existência de consciência da criança sobre a sua gaguez; 9) ambiente família.
Neste caso específico, apesar de a criança ainda estar numa idade em que a ocorrência de remissão espontânea é possível, apresenta alguns fatores de risco que devemos ter em consideração: 1) A criança gagueja há mais de 12 meses; 2) Apesar de não demonstrar sinais de tensão física, faz mais de duas a três repetições nas palavras gaguejadas; 3) Apresenta consciência da sua dificuldade; 4) o ambiente familiar constitui-se como um dos fatores com mais relevância neste caso em específico, uma vez que a criança só gagueja na presença dos pais.

6 - Quais as dúvidas mais frequentes que os pais lhe colocam acerca da gaguez?
As dúvidas mais frequentes relacionam-se com a etiologia da problemática e tratamento. Infelizmente ainda estão muitos mitos enraizados na nossa população e ainda permanece a ideia de que a gaguez é causada por um susto. O tratamento é uma das questões que aparece logo no primeiro dia de consulta, pois a maior parte dos pais vêm com a ideia da cura. Numa fase inicial muitos pais, acabam por ficar desiludidos, ou frustrados com o facto de não existir cura para a gaguez.
Existe ainda dúvida dos pais de crianças com gaguez relativamente à forma como reagir perante um momento de disfluência. Os pais querem ajudar os filhos, aquando um momento de gaguez, mas nem sempre sabem o que fazer e muitas vezes acabam por ficar ansiosos. Muitas vezes, esta ansiedade e sentimento de impotência perante a dificuldade do filho passa para as crianças que ainda se sentem menos confiantes e mais culpadas pela sua gaguez.
  
7 - Acha que a população em geral está devidamente informada acerca desta problemática? Se não, como acha que se poderia passar essa informação à comunidade?
Nos últimos anos, penso que assistimos a um aumento da informação relacionada com esta problemática. Uma grande ajuda foi, sem dúvida, o filme “The King’s speech”, que fez com que grande parte da população ficasse mais sensibilizada para as questões relacionadas com a gaguez. Ainda assim, a nossa sociedade continua enraizada com mitos que já deveriam ter desaparecido há décadas. Ainda persiste o mito do “susto”, da “respiração” como técnica de intervenção na terapia da fala, das questões “psicológicas”, entre outras…
Para criarmos campanhas de divulgação com o objetivo de fornecer informação à comunidade, temos em primeiro lugar de perceber quais são, exatamente os mitos e as duvidas que persistem na nossa sociedade, só assim conseguimos fazer uma divulgação efetiva.
Precisamos sem dúvida de criar estratégias para informar a população médica. Quando existe algum problema/dúvida relacionado/a com as crianças, os pais dirigem-se em primeiro lugar aos médicos. A maior parte dos médicos não tem em atenção os fatores de risco na gaguez e guiam-se somente pela taxa de remissão espontânea, pelo que são “perdidos” muitos casos onde poderia ter existido uma intervenção precoce. 
Precisamos ainda de informar os professores, que lidam diariamente com as crianças Para quem encaminhar? O que fazer quando as crianças estão a gaguejar em sala de aula? Estas são duvidas comuns nos professores, mas que vão sendo esquecidas, porque a turma é muito grande e não dá para prestar atenção apenas a uma criança, o tempo é reduzido, há outras coisas “mais” importantes a fazer…E o tempo vai passando…
Infelizmente a gaguez não é considerada uma dificuldade prioritária, logo as crianças com gaguez são facilmente “passadas à frente” por outras crianças com problemáticas mais “graves”, nos atendimentos públicos (hospitais e centros de saúde). Cada um de nós tem que lutar a sua maneira para que a “voz” destas crianças também seja ouvida e, sobretudo, lutar em conjunto com as organizações que se destinam a este fim, tais como a Associação Portuguesa de Gagos e a Associação Portuguesa de Terapeutas da Fala. Em equipa, em conjunto, conseguimos fazer mais e melhor.

       Com esta entrevista, esperemos ter elucidado as pessoas acerca da maneira como se processa a intervenção terapeutica num quadro de gaguez.

Entrevista - Terapeuta da Fala: Parte 1

     Depois da entrevista que vos deixámos com a mãe de L., queremos agora apresentar o testemunho da Terapeuta da Fala que acompanha esta mesma criança.

1 - Como se processa uma intervenção num quadro de gaguez? Quais são os principais objetivos terapêuticos quando estamos perante um diagnóstico de gaguez nesta idade?
Tudo depende da pessoa que temos à nossa frente. A gaguez está longe de ter manuais pelos quais nos podemos guiar. Em primeiro lugar temos que perceber quais são os objetivos para aquela criança que serão discutidos entre o terapeuta e os pais da criança. Muitas vezes é necessário adequar as expectativas dos pais, que na sua maioria estão relacionadas com a “cura”. Assim, é fundamental fornecer conhecimento fidedigno aos pais acerca da gaguez e orientá-los em relação a uma adequada interação com a criança. Existe com grande frequência pais que adotam estratégias como: “fala mais devagar”, “não faças isso”, “ respira fundo…”, entre outras. Existem ainda várias abordagens pelas quais nos podemos guiar. Existe um programa específico para as crianças: o “Lidcomb program” - que tem grande evidência científica, ainda assim este método é contestado por vários terapeutas da fala, por várias razões. A abordagem, inicialmente criada por Van Riper: Stuttering Modification também pode ser facilmente adaptada e utilizada com crianças, principalmente nas etapas terapêuticas que ele propõe.
Mais uma vez ressalto que não existem “receitas” na intervenção com a gaguez, por isso o mais importante é conhecermos a pessoa que está à nossa frente e escolher a ou as abordagens que melhor se aplicam ao caso em particular.

2 - Há quanto tempo está com a L. em intervenção? Como tem sido a sua evolução durante este tempo?
A criança foi sinalizada através de uma checklist que deteta dificuldades no âmbito da terapia da fala. Foi realizada uma anamnese à mãe e foram dadas orientações. A partir daí tenho mantido contato com a mãe, de forma a perceber as alterações que ocorrem na fluência da criança. Desde aí a criança tem passado por fases mais fluentes e menos fluentes. Gagueja exclusivamente com os pais. Têm sido dadas algumas orientações aos pais neste sentido. Nas últimas duas semanas a mãe referiu que a criança “estava numa fase boa” .

3 – Neste caso específico quais são as principais técnicas que utilizam na intervenção direta?
Ainda não foi feito nenhuma sessão de intervenção direta com a criança, no entanto penso que caso ocorra essa necessidade, as sessões iniciais terão que incidir sobretudo na dessensibilização para a gaguez e devem ter a presença dos pais, uma vez que é com estes que a criança gagueja mais. A criança deverá compreender que tem “permissão” para gaguejar junto dos pais e que estes não a vão “punir” de nenhuma forma por isso. Ao perceber isto a criança vai diminuir o medo que tem de gaguejar em frente dos pais e automaticamente vai diminuir as disfluências no seu discurso.

4 - Como é realizada a intervenção indireta neste caso? Quais são os principais intervenientes deste processo e de que forma é que intervém junto deles?
Neste caso os principais intervenientes são a educadora e os pais. A educadora foi importante sobretudo para fornecer algumas informações, mas não foram dadas quaisquer estratégias, uma vez que a criança não gagueja na escola. Foram dadas estratégias aos pais relacionadas com o tipo de comportamento a ter perante momentos de gaguez.

Entrevista à mãe de L.

       Olá a todos!

       Neste post, podem encontrar uma entrevista que realizámos a uma mãe de uma criança que gagueja e que se encontra na idade pré-escolar. Esperemos que seja útil para todos aqueles que tenham filhos com esta perturbação da fluência e assim não se sintam tão angustiados.

1 - Quando é que o seu filho começou a gaguejar? Quais foram os sinais de alerta?
Por volta dos 2 anos de idade, a L. levava muito tempo até conseguir dizer a palavra.

2 - Tem ideia da causa da gaguez do seu filho?
Antes de falar com a terapeuta da fala pensava que estava relacionada com a ansiedade. A terapeuta já me explicou que não existe uma, mas sim várias causas, no entanto ainda estou um pouco confusa em relação a esta parte.

4 - O que a levou a recorrer a um Terapeuta da Fala?
Há algum tempo que pensava em recorrer ao terapeuta da fala, mas o pediatra dizia-me sempre que a gaguez da L. era normal e que com o tempo a gaguez ia desaparecer. Eu inicialmente ficava descansada, mas depois vi que não passava… Fui informada acerca de rastreios gratuitos na escola e decidi inscrever-me para tentar perceber melhor o que estava a acontecer à L.

5 – Quais são as expectativas em relação à Terapia da Fala?
Eu gostava muito que ela deixasse de gaguejar…se bem que sei que talvez isso não seja possível. Quero sobretudo que a minha filha não sofra e que seja feliz!

6 - De que forma é que a Terapia da Fala está a ajudar o seu filho? E a si, também a ajuda? De que forma?
Nos momentos em que a L. estava a gaguejar eu ficava sem saber o que fazer. Não sabia se devia esperar por ela, ou se a devia ajudar….por vezes ela estava tão aflita…agora já sei o que devo fazer para ajudá-la nestes momentos, ainda assim nem sempre é fácil.

7 - Acha que o seu filho tem consciência de que gagueja? Se sim, como acha que ele adquiriu essa consciência?
Sim, houve um altura que ela própria dizia que não conseguia falar. Ultimamente nunca mais falou disso.

8 - Em que momentos/situações o seu filho gagueja mais? Com que pessoas isso acontece mais? Sabe porque isso acontece?
A minha filha gagueja sobretudo em casa, na escola, segundo a educadora, ela não gagueja.

9 - Acha que a população em geral está devidamente informada acerca desta problemática? Se não, como acha que se poderia passar essa informação à comunidade?
Acho que não. Estes problemas deviam ser mais falados na televisão, por exemplo. Fazem tantas reportagens sobre a deficiência e sobre a diferença, porque não fazer uma sobre a gaguez?

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

A Gaguez tem cura?

Não, a gaguez não tem cura, contudo com a ajuda de profissionais especializados, os sintomas poderão ser atenuados.
Na Terapia da Fala, a criança poderá aprender uma forma mais fácil de falar, com recurso a técnicas e ferramentas que são ensinadas pelo Terapeuta da Fala. Um dos objetivos centrais é ajudar a criança a ser um melhor comunicador, com confiança nas suas competências e habilidades, capaz de controlar as emoções negativas que muitas vezes surgem como fruto da incapacidade de falar fluentemente.

Assim, torna-se fundamental intervir o mais precocemente possível, evitando que a gaguez condicione a vida da pessoa. Na intervenção direta o Terapeuta da Fala utiliza essencialmente duas abordagens.

Uma das abordagens mais utilizadas, com crianças que gaguejam, é a Modificação da Gaguez (Stuttering Modification). Esta abordagem foi inicialmente proposta por Van Riper e não tem como objetivo eliminar a gaguez. Em vez disso, as metas são:
- Modificar os momentos de gaguez: gaguejar de uma forma mais fácil;
- Reduzir o medo de gaguejar, eliminando comportamentos de evitação associados.

Outra das abordagens utilizada é a Modelagem da Fluência (Fluency Shaping). Este tratamento centra-se na procura da fluência (débito, fala lenta, fala prolongada), promovendo a sua generalização a diferentes contextos. Este método dá pouca importância à redução de sentimentos, como o medo e evitação de palavras ou situações.

É também essencial que o Terapeuta da Fala realize uma intervenção indireta com os pais, de forma a:
- Explicar o programa terapêutico e qual o “papel” dos pais;
- Discutir possíveis causas da gaguez;
- Identificar e reduzir situações que promovem a interrupção da fluência;
- Identificar e aumentar situações que promovem o aumento da fluência.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Folheto

        Olá a todos!

       Ao longo deste semestre, temos publicado diversa informação acerca da Gaguez para que a população ficasse a conhecer um pouco mais esta problemática.
       Visto que estamos na recta final, construímos também um folheto, que irá ser distribuído por alguns infantários, de modo a sensibilizar os pais e professores para esta patologia comunicativa.
       Para quem quiser visualizar, aqui ficam os folhetos:

Folheto para educadores (Frente)
Folheto para educadores (Verso)
Folheto para pais (Frente)
Folheto para pais (Verso)

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Mitos

Se a pessoa tiver força de vontade para falar, ela consegue falar sem gaguejar 

           Tendo em vista que a ocorrência da gaguez é involuntária, a pessoa que gagueja não consegue ter controlo absoluto sobre a sua fala. Por isso, nem a maior força de vontade poderá impedir a ocorrência da gaguez. Por outro lado, a força de vontade pode ser uma grande aliada na superação da gaguez, facilitando a adesão aos tratamentos especializados.

Mitos

A pessoa gagueja porque pensa mais rápido do que fala
           Todas as pessoas pensam mais rápido do que falam. O pensamento é como se fosse um relâmpago e a fala, o trovão que o acompanha instantes depois. Portanto, a velocidade do pensamento não pode ser a causa da gaguez, porque todos nós pensamos mais rápido do que falamos, mas nem todos nós gaguejamos.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Mitos

Obrigar a criança a ler em voz alta na sala de aula faz com que ela perca a timidez e o medo de falar
           A timidez e o medo não são fatores que causam a gaguez. Portanto, a crença de que, se a criança deixar de ser tímida ou deixar de ter medo de falar, a gaguez irá desaparecer, está completamente errada. Na verdade, a timidez e o medo de falar podem ser consequências da gaguez: a criança pode ter medo de falar porque sabe que vai gaguejar, porque sabe que não consegue impedir a ocorrência da gaguez, e, muitas vezes, por acreditar que deveria ser capaz de fazer algo para não gaguejar. Por outro lado, o medo pode realmente agravar a gaguez. Assim, obrigar a criança a ler em voz alta na sala de aula só vai contribuir para piorar o problema. 

Mitos

Ajuda dizer à pessoa para ficar calma, relaxar, respirar fundo ou pensar antes de falar

          Este tipo de recomendações faz com que a gaguez pareça algo muito simples de se resolver. Se realmente assim fosse, com certeza que não haveria tantas pessoas que gaguejassem.
         Quando a pessoa que gagueja ouve do seu interlocutor algo como fique calmo, relaxe, respire ou pense antes de falar, a pessoa que gagueja fica ainda mais preocupada com o seu ”distúrbio”, o que provavelmente contribuirá para que a gaguez piore. Assim, a intenção de ajudar acaba apenas por atrapalhar ainda mais.
          Muitas vezes, o mal-estar que o interlocutor sente é maior do que o da própria pessoa que gagueja. Nestes casos, é o interlocutor quem precisa de ficar calmo e relaxar. Deve esperar que a pessoa que gagueja termine de falar, não completando as palavras e sem fazer comentários inoportunos. Respeitar o tempo e a forma de falar de quem gagueja é fundamental.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Mitos

Se a criança começar a gaguejar, é melhor fazer de conta que nada está a acontecer para que ela não tome consciência do problema

           Acreditava-se que chamar à atenção da criança acerca da sua fala seria a causa imediata da gaguez, fazendo com que hesitações comuns se transformassem em gaguez. Atualmente, sabe-se que isso não é verdade. Falar com a criança sobre a gaguez não fará com que o “distúrbio” se instale ou piore. Falar abertamente com a criança sobre a gaguez fará com que sinta o apoio dos pais, sentindo-se encorajada para partilhar as suas dificuldades. O silêncio em torno da gaguez só contribui para aumentar a distância entre os pais e os filhos.

Mitos

A gaguez é contagiosa. Pode-se "pegar" por imitação ou por conviver com uma pessoa que gagueja.
           A gaguez não é contagiosa nem ninguém pode "pegar" gaguez. Se assim fosse, todas as pessoas que convivessem com alguém que gagueja, gaguejariam também. 
           Além disso, dizer para uma pessoa que gagueja que ela aprendeu a gaguejar por imitação significa rebaixá-la e humilhá-la: com tantas características favoráveis para imitar, por que escolheria a gaguez, que lhe seria prejudicial e lhe traria desvantagens?

Mitos

Os pais das crianças que gaguejam são os principais responsáveis pelo distúrbio nos filhos, pois a gaguez resultaria de uma educação repressora e recriminadora
           
        Os pais das crianças que gaguejam são alvos de diversos estereótipos sociais. São apontados como pais dominadores, superprotetores, com altas expectativas, perfeccionistas, com sentimentos de rejeição e avaliações indesejáveis sobre a personalidade do filho que gagueja.

       Entretanto, os avanços científicos já demonstraram que os pais não são os responsáveis pela gaguez dos seus filhos.
   A gaguez é, provavelmente, um distúrbio neurobiológico cuja manifestação, na grande maioria das vezes, acontece sem qualquer interferência do comportamento dos pais.

  • Quando a gaguez ocorre devido à herança genética, significa que a criança possui genes que a predispõem ao distúrbio. Como os genes são determinados no momento da fecundação, os pais não podem escolher os genes que o filho irá receber, logo estes não são os responsáveis.
  • Quando a gaguez ocorre devido à lesão neurológica, geralmente a lesão foi causada por algum acidente em que a criança bateu com a cabeça (acidentes domésticos, desportivos ou automobilísticos). O que os pais podem fazer é tentar evitar a ocorrência destes acidentes, tomando as precauções necessárias.

          Embora os pais não possam evitar o início da gaguez, podem evitar que ela se agrave e se torne crónica. E é precisamente em relação a estes aspetos que as atitudes por parte dos pais são importantes.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Mitos

As pessoas que gaguejam são menos inteligentes

           Não existe qualquer relação de causa ou de consequência entre a gaguez e a inteligência, ou seja, não é a falta de inteligência que causa a gaguez, nem a gaguez que torna a pessoa menos inteligente. Algumas pessoas com gaguez optam por expressar menos as suas opiniões oralmente transparecendo assim a ideia de que é menos inteligente, mas este geralmente não é o caso.

Mitos

“Se eu não gaguejo em algumas situações (por exemplo: cantar, ler em coro, falar com outro sotaque, representar um personagem, sussurrar), é sinal de que posso ser fluente em todas as situações. Se não consigo ser sempre fluente, a culpa é minha.”
        A fala é processada por diferentes partes do cérebro, dependendo do contexto. As variações situacionais da gaguez - embora possam parecer (erradamente) um problema emocional ou de ansiedade social - refletem apenas diferenças no modo como o cérebro processa a fala de acordo com a circunstância.
O cérebro tem dois sistemas pré-motores: o medial e o lateral. O primeiro fica ativo quando a pessoa fala e o outro quando ela produz sons mais ritmados. Na gaguez o sistema pré-motor medial (responsável pela fala espontânea) tende a estar comprometido e o sistema pré-motor lateral (responsável pela fala não espontânea: cantar, ler em coro, representar…) tende a estar íntegro. Assim, é de esperar uma melhoria da gaguez em situações que não envolvem fala espontânea, o que não significa que esta melhoria possa ser transferida para a fala espontânea, uma vez que estamos a falar de processamentos distintos. 

Mitos

A gaguez é um hábito adquirido

       Afirmar que a gaguez é um hábito significa que a pessoa começaria a gaguejar voluntariamente e, com a prática, a gaguez tornaria-se automática e espontânea. E como já sabemos não é isso que acontece. A gaguez é um distúrbio neurobiológico causado, provavelmente, pelo mau funcionamento de áreas do cérebro responsáveis pela automatização da fala, ocasionando prolongamentos, bloqueios ou repetições. Esta disfunção é o resultado de uma predisposição genética ou de uma alteração na estrutura do próprio cérebro. Portanto, a gaguez não pode ser simplesmente aprendida por imitação, porque ocorre em pessoas que, de alguma forma, estão propensas a ela.

Mitos

Um susto pode causar gaguez

       Quem é que nunca apanhou um susto?
     Se um susto causasse gaguez, provavelmente todos seriamos gagos. Esta confusão pode acontecer porque os pais podem relacionar a gaguez do seu filho com algum trauma que tenha apanhado.

domingo, 18 de novembro de 2012

Os Mitos da Gaguez

        A população em geral dispõe de pouco conhecimento acerca da gaguez. Assim, é natural que se ouçam, ocasionalmente, ideias erradas acerca deste tema na tentativa de explicar algo que na verdade desconhecem. Existem, por isso, diversos mitos associados a esta perturbação da fluência.
Ao longo da próxima semana desvendaremos alguns mitos de forma a satisfazer a sua curiosidade e a clarificar ideias/preconceitos que possam existir.

            Fiquem atentos!

Consequências (Parte 2)


Na criança que gagueja, o rendimento escolar poderá estar em risco. Ao apresentar dificuldades em verbalizar certas palavras, prejudica a fluidez do seu discurso o que irá certamente comprometer o processo de ensino-aprendizagem.
É na escola onde as crianças, geralmente, vivenciam os momentos mais significativos de interação com os seus pares e com os educadores. A criança é, assim, mais solicitada a responder, em situação de sala de aula ou outra, estando por isso mais exposta e vulnerável. Ao sentir-se pressionada a gaguez tornar-se-á mais evidente, podendo até ser alvo de troça dos demais.
Surgem então dificuldades na forma como lidar com esse gozo por parte dos colegas e na falta de compreensão por parte de alguns professores, que tendem a puni-los no aproveitamento escolar.

Como já vimos, as consequências desta perturbação são várias e podem surgir também associadas a comportamentos motores, tais como, o piscar de olhos, tiques, tremores dos lábios ou da face, extensões bruscas da cabeça, movimentos respiratórios irregulares, ou até fechar os pulsos no ato de fala. Estes sinais são muito visíveis e podem afetar psicologicamente a criança ou o indivíduo, inibindo até o seu convívio social.

Concluindo, a gaguez não se traduz apenas no visível ao nível da fala, mas sim, em todo o psicológico e maneira de ser da pessoa, trazendo assim muitas implicações e consequências menos desejadas para a pessoa que gagueja. Esta perturbação da comunicação afeta o bem-estar bio psicossocial do indivíduo.

“A gaguez quer afete uma criança, um jovem ou um adulto, toma a dimensão que a própria pessoa lhe dá. A personalidade e a fase de maturidade física e cognitiva da pessoa que gagueja influenciam o modo como lida com a gaguez e o impacte da mesma na sua qualidade de vida.” (Gaiolas, 2010)

Consequências (Parte 1)

A gaguez é muito mais do que a dificuldade de se expressar, de querer dizer e não conseguir, de perder o controlo sobre os mecanismos da fala. Sendo assim, é muito mais do que aparenta. Gaguejar causa sentimentos e emoções negativas desde a infância que, sem o apoio e acompanhamento adequados, se enraízam, intensificando-se ao longo da vida.
O sentimento de frustração, irritação, embaraço, vergonha, culpa e de ansiedade, em conjunto com as emoções negativas pode muitas vezes conduzir ao medo de falar e ao isolamento.

O medo de falar, de ser gozado, ou o simples receio de enfrentar a impaciência das pessoas, são fatores que condicionam a socialização desde muito cedo, normalmente desde os 5 anos.

Todos estes aspetos, quando se agravam, vão interferir e muito na vida de uma pessoa que gagueja, não só a nível pessoal mas também em certas situações sociais e profissionais. Uma vez que a pessoa não se sente à vontade na maior parte dos contextos, não tem a capacidade comunicativa que pretende, tem bastante dificuldade em falar em público, sente-se envergonhada, principalmente na presença de estranhos e tende a isolar-se.
Muitas vezes o sentimento de culpa é tão grande que leva a um mal-estar completo, originando posteriormente depressões e medo de voltar a estar em situações diferentes do quotidiano.

Segundo Gaiolas: “Falar, para qualquer pessoa que gagueje, é uma incógnita, pois nunca sabe quando irá ficar preso num som ou numa palavra, e isto pode levar a uma antecipação mental da gaguez. O simples facto de a pessoa prever que vai gaguejar em determinada situação ou com determinado ouvinte, desencadeia o medo de efetivamente gaguejar. Qualquer pessoa com medo de algo fica tensa e sem autoconfiança, ingredientes fundamentais para o aparecimento e aumento da gaguez.”

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Mecanismos de fuga e evitamento

Visto que a gaguez é bastante incomodativa, existe uma procura geral, por parte de todos aqueles que gaguejam, de evitar ou contornar a gaguez. Assim, tanto as crianças, jovens ou adultos tendem a desenvolver naturalmente, e sem qualquer ensinamento, mecanismos de fuga à gaguez.

















Mesmo assim, entra aqui um desfio: “O que é mais importante, esconder a gaguez dos outros ou obter aquilo que se deseja? É certamente um desafio muito difícil de gerir e só quem passa por ele é que tem essa noção.” (Gaiolas, 2010)

Mecanismos físicos associados

     A gaguez não se limita aos três tipos de interrupções na fala, já mencionados anteriormente no post “Tipos de Gaguez”. Quando a criança/jovem está a gaguejar, observam-se, frequentemente, movimentos estranhos na sua face e no seu corpo. Muitas vezes, quem não conhece as características da gaguez, pode rotular a criança que gagueja de “esquisito”. Deste modo, torna-se fundamental conhecer as características desta patologia comunicativa.

       Quando a pessoa que gagueja fica constantemente presa nas palavras que quer dizer começa a sentir-se como que “sufocado”. A tentativa de sair rapidamente dessa “prisão” e de ultrapassar os momentos de gaguez traduz-se no aumento da tensão muscular, afetando músculos direta e indiretamente relacionados com a voz (face, ombros, pescoço, membros…).
      Este aumento da tensão muscular faz aumentar a gaguez e provoca a ocorrência de movimentos parasitas involuntários como:

domingo, 4 de novembro de 2012

Workshop sobre Gaguez

       Dia 24 de Novembro, os Terapeutas da Fala Jaqueline Carmona e Gonçalo Leal irão dinamizar um Workshop sobre a Gaguez, em Belém.
         Este é o Workshop ideal para quem gostaria de atualizar e expandir os seus conhecimentos acerca desta patologia comunicativa.

Tipos de Gaguez

A gaguez é algo que não se manifesta de igual forma em cada pessoa, ou seja apresenta uma grande diversidade. Esta patologia da comunicação pode ser caracterizada como uma interrupção no fluxo normal da fala. Na gaguez crónica, estas interrupções acontecem geralmente dentro da unidade da palavra. Consideram-se, assim, três tipos de interrupções, sendo elas:
  1. Repetições de sons (e-e-e-e-e-eu), de silabas (ca-ca-ca-ca-casa) e de palavras (quero-quero-quero-quero brincar).
  2. Prolongamentos de sons em início (eeeeeeeeera), meio (teeeenho) e fim de palavras (querooooooo).
  3. Bloqueios - pausas longas, com esforço muscular que podem que podem ocorrer em início da frase (…….Gosto de brincar), no meio (O…gato arranhou-me) ou apenas numa palavra, partindo-a em duas (con….cordo)
A pessoa que gagueja poderá evidenciar maioritariamente um destes tipos de gaguez (repetições, prolongamentos ou bloqueios). Contudo, é comum que a mesma pessoa manifeste os três tipos que, embora não coexistam em simultâneo, poderá ocorrer na mesma frase.
Ernesto, O Menino com Gaguez
Estas interrupções afetam a comunicação em graus de severidade diferentes e impossibilitam a pessoa de interagir oralmente de forma natural e eficaz.

(Gaiolas, 2010)


Tipos de Disfluências Normais

Como já referimos no post “Da Gaguez de Desenvolvimento à Gaguez Crónica: Parte 1” é normal que as crianças, no processo de aprendizagem da fala, não consigam falar logo fluentemente, apresentando disfluências normais.
Nestes casos, as interrupções acontecem geralmente entre as palavras. As manifestações mais frequentes são:
  1. Repetições (o número de repetições não deve ser superior a 3 seguidas) – Posso… posso brincar?; Eu… Eu… Eu quero o carro.
  2. Reformulações do discursoPosso ir… o Pedro vai ao parque… podemos ir?
  3. Silêncios curtos em palavrasAquele cão é… castanho.
  4. Prolongamentos curtos de sonsOOO primeiro sou eu!
  5. InterjeiçõesEspera, aaa, vou contigo.
(Gaiolas, 2010)

No fundo, todos nós gaguejamos em certas ocasiões (quando estamos sujeitos a condições de stress, cansaço, nervosismo…) apresentando manifestações destas disfluências normais. 

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Quais as diferenças?

       De forma a melhor perceberem as diferenças entre a gaguez de desenvolvimento e a gaguez crónica, apresentamos de seguida, um quadro onde se encontram as características mais relevantes de cada uma:
Referências Bibliográficas: Gaiolas, M. Gaguez da Infância à Adolescência. Vogais & Co. Edições, Lda. Cascais. 2010


quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Da Gaguez de Desenvolvimento à Gaguez Crónica: Parte 2

No caso das disfluências ocorrerem frequentemente, a criança começa a detetar as reações das pessoas à sua fala, que muitas vezes são de impaciência, de ansiedade, de preocupação, ou poderão até mesmo ser comentário desagradáveis.
Ao aperceberem-se desta situação começam a interiorizar que já não são capazes de controlar a sua fala. Sempre que a criança deseja falar, algo involuntário a retém no início ou a meio de uma frase, não lhe permitindo passar a sua mensagem como gostaria.
Assim, tende a procurar novamente a facilidade com que até então era capaz de produzir as primeiras palavras e algumas frases e, para isso, intensifica a força dos músculos destinados à produção de fala e em músculos complementares, o que dá origem a expressões faciais tensas e exageradas, e a movimentos involuntários como piscar os olhos, tremer os lábios, menear a cabeça…
A fala deixa assim de ser uma ferramenta ao serviço da criança e passa, na maioria dos casos, a condicionar o seu comportamento. O medo de falar e ficar retido numa palavra instala-se, e a criança começa a condicionar a sua vida, escolhendo apenas situações que considera de fala segura.
Estamos assim, perante uma criança com uma gaguez crónica.

 

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